domingo, 28 de junho de 2009

que princípio e que fim?


Vivo porque a lembrança de viver é a maior de todas. Por hábito, por não conhecer outra coisa. E por medo, claro. Cultivo a religião da memória, a luta entre desprendimento e gravidade, a sacralização do "mais ou menos", do "nem por isso" e de todas as outras fórmulas que nos colocam na mediania do ser. Como quem sobe um escadote alto, eu tento agora ver a vida de cima, mas a vertigem recorda-me a queda. E cada degrau tremente as antigas inseguranças. E cada insegurança uma memória de dor. E a dor o hábito. Eu sou aquela velha e estúpida serpente que morde a própria cauda e se repete até à náusea.

bso Just like heaven by The Cure

segunda-feira, 15 de junho de 2009

exaustão


Eu quero uma licença de dormir,
perdão para descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado

bso Blind by Hercules and Love Affair