sexta-feira, 5 de setembro de 2008

onde?


Em cerca de três décadas e meia, vivi já em mais de vinte casas diferentes. Diferentes foram sendo os países, os locais, os motivos da mudança e as próprias casas em si. Partilhei-as em idades diferentes com a família, os amigos, namorados que iam e vinham, depois novamente a família, novamente os amigos, vivi sozinha e depois os companheiros. Não casei, não caso. Certamente não casarei. Não tenho muitas raízes. A algumas casas fui capaz de chamar mais casa do que a outras, numas senti-me melhor, noutras pior. Nunca me apeguei demasiado a nenhuma. Talvez porque saiba que uma nova mudança ocorrerá sempre em breve. A contradição é que eu gosto de voltar para casa ao fim do dia. Gosto de estar em casa, recolhida, protegida. E anseio pela casa a que chamarei finalmente minha e na qual possa fixar-me como sempre desejei. E não volatilizar-me como acontece sempre. Para combater este sentimento de não pertencer a nenhuma casa, sempre me fiz rodear de uma quantidade absurda de objectos pessoais, trazidos de viagens, comprados por ímpeto, oferecidos. O que equivale a dizer que as minhas mudanças são sempre pesadas e demoradas, mas também que esses objectos materiais e mundanos são o sentido de lar que me resta. Esta semana fiz mais uma mudança. Para lado nenhum ainda. Deixei uma casa cujas paredes coloridas reflectiam todos os dias e a todas as horas um miasma de infelicidade e frustração. E, por enquanto, gozo o limbo de não estar em lado nenhum e trazer a vida dentro de caixotes. Sinto-me livre, mas muito, muito em breve encontrarei uma nova casa. Talvez não seja a definitiva, mas será, tenho a certeza, a mais feliz de todas.

bso Home is in your head by His name is Alive

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