terça-feira, 30 de dezembro de 2008

finais


O fim de ano não nos é exterior. Não é a celebração, a cenografia perfeita de uma gala. O fim de ano é mais rústico. Passa-se nas nossas entranhas, num balanço entre o que conseguimos ou não digerir nestes últimos meses e que forças nos restam para o que aí vem. Não é o brilho elegante dos copos que se erguem na festa; são as manchas toscas de humidade no nosso coração. Não é a indumentária esmerada, pensada ao pormenor; é a forma como o tecido da pele ainda nos assenta. Não é o banquete robusto e variado, sofisticado; é aquilo que o nosso estômago se sente capaz de aguentar sem se revolver ainda mais. Não são os votos de felicidades futuras; é o contrato sem termo que firmamos connosco para vivermos mais alguns anos. Não são as doze passas e os doze desejos; é um sem número de desgostos. A ter equivalente exterior, o fim de ano seria um salão de baile cheio de fantasmas, com as paredes descascadas e o soalho gasto. A música seria uma memória muito, muito antiga.

bso Take this waltz by Leonard Cohen

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