quinta-feira, 30 de outubro de 2008

pilhérias


Acordamos.

“Tenho a boca a saber a sal”.

“ Sim, a vida pode ser como uma paisagem de salinas, erma, monótona, desoladora na brancura da sua solidão. Nem o brilho dos cristais sob a varinha de condão do sol nos parece oferecer qualquer promessa redentora, qualquer possibilidade de brilho”.

“E como acontece com a comida demasiado salgada, bebemos água e vinho para minorar os efeitos. Ainda que a custo, comemos o que está no prato.”

“Para não fazer a desfeita a alguém?”

“Isso. Ou porque de qualquer forma temos de alimentar-nos. Ou porque nos lembramos, com um aperto no coração, que há muitos que passam fome.”

“Ou porque nós próprios já passámos fome também”.

“Também. Não há nada como as más memórias para nos dar a ilusão de que nunca mais cometeremos os mesmos erros.”

“ Bom, esperemos que o dia seja pequeno e ameno. E que, de alguma forma, as horas te sejam benevolentes”.

“Assim seja”.

bso The Nomi song by Klaus Nomi

Nenhum comentário: