sábado, 11 de abril de 2009

a praga que cada um merece


O medo de que o céu nos caia em cima é um atavismo vindo do tempo das tempestades imensas que não sabíamos explicar. Se tal acontecesse deveras, o chão perderia também o seu significado. E quando o tecto nos cai literalmente em cima da cabeça? Verificam-se os receios antigos, sentimo-nos à deriva e perdemos o pouco sentido de segurança que nos resta. Nesta época não é estranho evocar, a par de traições e delações já mencionadas, o aviso dos castigos sobrenaturais. Tenho tido as minhas pragas de insectos sob a forma de vitupérios. É certo que não tenho gado nem filho primogénito para matar, mas o meu sangue talha e a frágil esperança gela. Não sou egípcia nem judia e gostava que a compensação pelos bons gestos não conhecesse pátria. E, já agora, que a consequência da maldade não fosse terra de ninguém.

bso Un bel di vedremo from Madama Butterfly by Giacomo Puccini

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