quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

elogio do redondo


Gosto de volutas, linhas ondulantes e formas arredondadas. Bonecas de cara bolachuda. Conduzir um carocha. Molduras ovais. A elipse do sol. Frascos e jarras bojudos. Velas cilíndricas. Incensos em espiral. Colunas gregas. O mistério que encerra o símbolo da serpente a morder a própria cauda. Um copo cintilante de vinho. Seixos. Pérolas. Pedras preciosas talhadas na suavidade das curvas. Rebuçados bola de neve. Estradas sinuosas. Anéis e pulseiras que se acomodam à pele. O símbolo japonês do vazio. Uma bóia como metáfora da salvação. O chão circular de uma tenda de circo, lugar de sonhos e pesadelos. O comprimido que alivia. A colher, um dos primeiros instrumentos ao qual reconhecemos utilidade. Um balão de puro malte. As formas femininas de um violoncelo. CD´s e DVD´s. A música das esferas. Pena os livros não serem redondos. Latas de chá. Antigos relógios de antigas gares, quando as horas eram suaves e menos angulosas. A lente de uma máquina fotográfica. A maçã da discórdia ou da sabedoria. O facto de a terra ser redonda e girar sobre si mesma, como um dançarino derviche em câmara lenta. A redundância infantil e ternurenta de algumas conversas. Os círculos do Inferno de Dante. As vaidosas argolas de fumo dos primeiros cigarros. O casco de madeira dos barcos. As cúpulas esmagadoras das basílicas. Os minaretes da Mesquita Azul. Lâmpadas de luz quente. Flores em botão. As escadas em caracol das torres de Notre Dame. O Templo do Céu de Pequim. Até as mulheres das pinturas de Rubens. No meu caso, é pena, gostava de ter menos rotundidades e mais arestas. Apesar de tudo, sou produto do meu tempo.

bso Nadia by Nitin Sawhney & Reena Bhardwaj

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