sábado, 24 de janeiro de 2009

labareda à beira mar


Na praia do Forte Aguada, em Goa, num fim de tarde de Abril, resolvemos abrir sobre a areia o sari gigante comprado nesse dia no magnífico mercado empoeirado. Distanciávamo-nos para que o tecido pudesse abrir-se na sua estridência de cor. Congelei esse instante na memória, dizendo para mim mesma, baixinho, que me lembraria daquele frame toda a vida. E é verdade, acompanhar-me-á sempre. Cansado de ser, o dia abdicou finalmente em favor de uma luz espectral, aguardando que a noite estrelada tomasse posse. Ali não há lugar para o pôr-do-sol postiço dos postais turísticos. Os nossos corpos eram figuras recortadas sobre o fundo das águas do mar arábico. Supremo décor. E o tecido incendiava a cena. Tu, meu amigo, já morreste e fizeste de mim a única herdeira deste minúsculo, mas poderoso, património pictórico. Quando chegar a minha vez, quero que me enrolem nesse sari vermelho e laranja. Na morte, por fim, permitir-me-ei alguma extravagância.

bso Thank you by Alanis Morrisette

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