sábado, 23 de agosto de 2008

queda


Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos quando sonhamos que viajamos juntos num avião que se despenha e não apertamos as mãos um do outro com muita força?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se dormimos na mesma cama e os maus sonhos nos perseguem todas as noites?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se vivemos juntos e mal pomos o pé dentro de casa temos logo vontade de recuar?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se jantamos juntos e a comida sabe mal e o vinho é amargo?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se prometemos partilhar e apenas proferimos palavras de circunstância?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se anunciámos um ao outro a alegria e não há risos nem música?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se trocámos os nossos corpos até se confundirem e agora não resta mais que a doença?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se nos escreveu as mais belas palavras de amor e hoje já nada tem para dizer?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se nos ofereceu protecção e abrigo e depois tingiu as paredes de mentira?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se lhe fizemos a dádiva do resto da nossa juventude e rapidamente nos deixou cair?

Quão distantes estamos de alguém que diz amar-nos se jurou que o nosso amor havia sido abençoado e os deuses nos esqueceram?

Muito. E fugimos.



bso The suffering by Belcanto

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